Entrevista a um Companheiro Peruano

Realizado no Grupo de Estudos Vale dos Pomares (G.E.V.P.) no dia 17 de Março de 2024.

O entrevistado é o Companheiro ‘Raúl’, ele é um Quechua Peruano em Ayacucho e um ativista democrático-popular. Seu avô foi do Partido Comunista do Peru.

O Camarada Raul não representa nenhuma organização, partido ou grupo do movimento democrático-revolucionário no Peru.

As opiniões e palavras expressas são exclusivamente dele.

Entrevistador(Thiago): “O comunismo é ilegal no Peru?”

Companheiro Raúl: “O ‘comunismo’ dos oportunistas nas grandes cidades não é ilegal, porém nos Andes qualquer organização ‘simpática’ ao comunismo sofre com espiões e perseguições do DIRCOTE, principalmente nas regiões rurais, onde é muito forte a repressão. Os policias atiram na cabeça de simples camponeses, e ainda há suspeita de tortura em alguns locais.”

Entrevistador(Thiago): “O que é o FREDEPA (Frente de Defensa del Pueblo de Ayacucho)?”

Companheiro Raúl: “A base José Carlos Mariategui, foi criado um sindicato que organiza a Frente de Defesa do Povo de Ayacucho, atualmente tentam ser mais moderados por quê tiveram todos os lideres presos desde 2022 pelo DIRCOTE (Dirección contra el terrorismo), desde a “tomada” do aeroporto onde houve mortos.”

Thiago discorre sobre o DOPES e compara-o ao DIRCOTE, e pergunta se algo do tipo existe no Peru.

Companheiro Raúl: “Não são tão “selvagens” quanto antes, durante a Guerra Popular eles se infiltraram na universidade, o governo ainda tem medo de uma presença do PCP ou de simpatizantes de lutas sociais no país, então o DIRCOTE ainda atua em vários lugares, mas sem a mesma intensidade que faziam durante a GPP.”

Entrevistador(Thiago): “Quem é Pedro Castillo?”

Companheiro Raúl: “Ele é conhecido por ser integrante de uma revolta de professores, dizem que ele é um rondero mesmo sem muitas fontes.  Castillo é conhecido por ser um fantoche da pequena burguesia e parte da burguesia burocrática, tanto a parte mais reacionária da burguesia burocrática quanto a burguesia compradora se uniram contra ele, e então ele começou a fazer concessões ao grande capital. Logo o mesmo tentou um golpe para ter apoio das massas, mas acabou sofrendo um golpe pelos Fujimoristas e foi derrubado.”

Entrevistador(Thiago): “Como as massas peruanas lidam com a farsa eleitoral?”

Companheiro Raúl: “Uma grande parte das massas vão votar, e ao mesmo tempo o povo não tem vontade de votar, ainda mais o povo de lugares mais afastados. As eleições no Peru são uma troca de um opressor por outro,  chamando à marcha de coisas que não são do interesse das massas, e os candidatos não pensam nas minorias, constantemente os setores mais reacionários da burguesia tentam impedir o povo de votar quando vêem que vão perder.”

Entrevistador(Thiago): “Pode falar sobre o Comitê Base Mantaro Rojo e a FAR-EP atualmente?”

Companheiro Raúl: “Sobre a FAR-EP, eles parecem não entender qual fração armada é a ”correta” e apesar de serem oportunistas eles apoiaram muito o PCP antes e durante a guerra popular, tanto que eles tomaram uma universidade e reivindicaram o PCP quanto o Tupac Amaru. Sobre o Mantaro Rojo, até onde eu entendo é uma pequena fração que se afastou dos traidores traficantes, e formaram uma pequena base de apoio, a única coisa que se sabia era que tinha um Facebook e uma página e ambos foram detidos pelo estado. Boa parte pensa que eles eram reais, mas não se sabe se eles eram reais e outros acham que era apenas uma pessoa.”

Entrevistador(Thiago): “As obras e livros do Pte. Gonzalo são proibidos no Peru?”

Companheiro Raúl: “Documentos compilados, os escritos e documentos de Gonzalo são banidos, não existe nenhuma cópia física de um documento do pcp, porém estes podem ser encontrados online. Algo curioso a ressaltar, o livro dos oportunistas do MOVADEF “De Punho e Letra” onde tratam Gonzalo como Acordista, é legalizado e publicado oficialmente, o que indica um possível acordo do MOVADEF com o Velho Estado Peruano.”

Entrevistador(Thiago): “Pode falar mais sobre os acordistas, o MOVADEF e o apoio ao Pte. Gonzalo no Peru?”

Companheiro Raúl: “As massas não estão muito por dentro da batalha contra a Linha Oportunista de Direita, parte das massas apoiam o PCP mas não conhecem a luta entre o ‘Proseguir’ e o ‘MOVADEF’. A narrativa que todo Peruano odeia Gonzalo é falsa, ele é odiado em Lima e nas metrópoles mas é muito querido na zona rural e nos andes.  Eu estava em um server (Kartasuna), onde encontrei outros simpatizantes peruanos de Gonzalo, e entre eles dizem que em Lima e nas zonas metropolitanas têm zonas pobres que têm apoio à Gonzalo, e o PCP teve apoio nesses locais.”

Entrevistador(Thiago): “Pode falar sobre Lucanamarca e a acusação que Gonzalo ”fervia bebês”?”

Companheiro Raúl: “Nem os Fujimoristas peruanos acreditam que Gonzalo ”ferveu bebês”, essa narrativa é apenas presente no exterior, aqui não tem credibilidade. Sobre Lucanamarca, em vários documentos sobre o caso, Gonzalo se retifica sobre os exageros e isso é amplamente reconhecido aqui.”

Entrevistador(Thiago): “O que os democratas peruanos sabem sobre o Brasil e o P.C.B.?”

Companheiro Raúl: “Não sei se estou generalizando, mas uma grande maioria dos simpatizantes de Gonzalo no Peru, não sabem que os aportes de Gonzalo são reconhecidos em vários países, não só pela censura mas simplesmente por não sabem onde se informar, se você por exemplo busca coisas do PCP, só acha pura propaganda do Velho Estado. A única forma de achar sobre o movimento internacional é usando palavras sobre o Maoismo em inglês, uma língua que não é tão conhecida entre os democratas no Peru.”

Entrevistador(Thiago) e Companheiro Raúl conversam sobre o Puka Inti, o TKP/ML e outros partidos e falam também sobre o MEPR, trazendo a questão do Facebook, redes sociais e movimentos sociais.


Companheiro Raúl: “O Facebook é a rede social mais usada no Peru, quase hegemônica e ela tem extremos problemas de segurança, é extremamente difícil falar sobre Abimael, pois qualquer um que fale sobre ele é perseguido pelo DIRCOTE. Os movimentos sociais são bem suprimidos, temos o rock peruano que serve como forma de protesto, mas a maioria das músicas evitam tocar no tópico pelo medo da censura.”

O entrevistador afirma que a perseguição de ativistas democratas através do Facebook também ocorreu no Brasil em 2013-14.

Entrevistador(Thiago): “Pode recomendar livros e obras sobre o Peru, a história do Peru e a GPP de uma perspectiva democrática?”

Companheiro Raúl: “Não pode-se falar muito sobre livros, professores e escritores, pois a maioria deles tiveram seus livros censurados ou removidos, os que ainda existem têm os nomes dos autores cortados por segurança. Os documentos oficiais do PCP são a melhor fonte, mas existem alguns pequenos desconhecidos historiadores ”neutros” que podem ser usados para estudos.”

Entrevistador (Thiago): “Como está a situação do PCP atualmente no Peru?”

Companheiro Raúl: “Estão em uma luta de reorganização. Com a LCI, esse processo se tornou mais avançado. Mas, por exemplo o MPP, é a única organização central sem oportunistas nem revisionistas de grande influência. Mas dentro do Peru não existe uma luta forte contra o MOVADEF e os revisionistas, não existe nada grande organizado em massa no Peru. Pode-se considerar que a GPP nunca acabou, não parou, mas está em um processo de reorganização e está ‘bagunçada’.”

Entrevistador(Thiago): “O que os peruanos sabem sobre o Movimento Internacional pela Vida e Liberdade do Pte. Gonzalo? E sobre o apoio a GPP, como ocorreu pela música Bombtrack da Banda RATM?”

Companheiro Raúl: “Nada disso foi repercutido ou falado pela mídia aqui. Essa banda nem é conhecida no interior e a mídia continua escondendo o apoio internacional, só não se conhece bem os métodos. Mas ela continua suprimindo pois sabe que os Peruanos continuam em marcha por seus direitos, independente de qualquer ataque brutal contra as massas.”

Entrevistador(Thiago): “Qual foi a relação do PCP com o Catolicismo e as religiões indígenas?”

Companheiro Raúl: “Muitos simpatizantes do PCP eram católicos e ligados à Teologia da Libertação, mas alguns tornaram-se ateus após seguirem a linha do partido. As religiões indígenas tiveram ampla simpatia do PCP, pois eram mais ligadas aos ideais da natureza e do mundo material, diferente do abstracionismo idealista cristão.”

Entrevistador(Thiago): “O que pode falar sobre o Império Inca e seu modo de produção?”

Companheiro Raúl: “O Peru Inca era feudal, não uma sociedade escravocrata. Tinham setores que pareciam com escravos, mas não viviam a base de servidão escravista, o povo e o império Inca tinham uma relação comunitária mais ligada ao feudalismo. Hoje, os povos do antigo Império Inca (Equador, Peru, Bolívia) são unidos por um sentimento de irmandade e as guerras que ocorreram entre eles foram apenas pelos interesses do capital.”

Os companheiros dão suas considerações finais, saúdam a entrevista e suas contribuições.

2 respostas para “Entrevista a um Companheiro Peruano”.

  1. Buena entrevista me alegre mucho que haya presencia de comunistas mlmaoistas en el peru. Soy peruano pero vivo en lima y es dificil encontrar gente que sigue el pensamiento Gonzalo y que estudie las obras del PCP. Gracias por publicar, viva el peru comunista!

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  2. Seria muito bom se esclarecesse as siglas e, se possível contextualizasse para facitar a compreensão. De qualquer forma muito interessante. Não fazia ideia da magnitude da repressão que há no Peru. Obrigado por compartilhar.

    Curtido por 1 pessoa

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